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Oscar de Azevedo está otimista. Como presidente do Instituto Senai de Petróleo, Gás e Energia do RS, ele detém informações suficientes para afirmar que o mercado de energia, após um momento de declínio, está em vias de se estabilizar. E pode até passar por um novo “boom”. A questão é que, até agora, ninguém sabe quando este boom vai ocorrer. “Esta é a pergunta de um milhão de dólares”, garante ele.
Enquanto a bonança não vem, Azevedo recomenda que as empresas se preparem para aproveitar as oportunidades que despontam nesses segmentos. Para isso, recomenda uma série de iniciativas – desde a diversificação de clientes e a formação de parcerias para diminuição de custos até a participação em entidades como a RS Óleo, Gás & Energia.
Essas e outras recomendações foram abordadas durante a palestra “Rumos dos Segmentos de Petróleo, Gás e Energias Renováveis”, realizada durante a edição de fevereiro do Workshop de Oportunidades. Promovido pela RS Óleo, Gás & Energia em parceria com o Sebrae/RS, o evento lotou novamente o auditório do Tecnopuc na noite desta segunda-feira (20/fev), trazendo insights valiosos para quem atua nas diferentes cadeias da indústria energética.
Para o presidente da Associação, Marcelo Leal, as empresas precisam se reestruturar enquanto aguardam a estabilização do mercado. A informação, neste caso, possibilita novas perspectivas e parcerias nos negócios. “O empresariado precisa se informar para cumprir as próprias metas e essas novas demandas que virão”, garante.
Formado em Engenharia Mecânica, Azevedo vem de uma família com tradição empreendedora nas indústrias de Caxias do Sul. É empresário e conselheiro de empresas que atuam no mercado de óleo, gás e energia. Além disso, atua na coordenação do Comitê de Petróleo, Gás e Energia da Fiergs – e ainda representa a entidade no Conselho de Administração da ONIP e no Centro de Excelência de EPC da Petrobras. Confira, nesta entrevista, algumas de suas ideias para as empresas que buscam oportunidades nesse mercado:
Você fala sobre os rumos de três segmentos diferentes – Petróleo, Gás e Energias Renováveis. Há algum contexto que se aplique a todos eles?
Na verdade, o que eu quero demonstrar é que não existem diferenças fundamentais entre esses três segmentos para quem atua como fornecedor. As características desses mercados são muito similares e demandam os mesmos tipos de atributos. A empresa que desenvolve sistemas de automação para o segmento de petróleo e gás, por exemplo, pode tranquilamente buscar oportunidades no mercado de energia eólica ou solar. Em todos esses mercados, o que se exige do fornecedor é o mesmo conjunto de atributos: escala, não-dependência, capacidade exportadora, etc.
Historicamente, porém, as empresas sempre fizeram uma distinção muito clara entre óleo e gás, de um lado, e energias renováveis de outro.
Isso está muito ligado a nossas experiências do passado, de uma época em que o mercado de óleo e gás era limitado pelo monopólio da Petrobras. Hoje, a situação mudou. O que eu quero mostrar é que existem similaridades para quem busca atuar nesses segmentos. . Temos um grande mercado de energia, que deve ser encarado em uma economia de escala. No caso das empresas fornecedoras da Petrobras, se você olhar, as que mais prosperaram e sobreviveram foram aquelas que souberam diversificar seus negócios e evitar uma dependência excessiva em relação à estatal. E este é outro tema importante que costumo tratar: a não-dependência.
Quanto aos “rumos dos segmentos de petróleo, gás e energias renováveis” – quais são eles?
Eu acredito que o futuro vai ser muito bom. O surgimento de startups que se concentram em desenvolver sistemas para evitar a perda de petróleo, por exemplo, estão aquecendo o Rio Grande do Sul. Uma das minhas recomendações, aliás, é que as empresas devem se preparar para o boom que vai acontecer neste mercado. A pergunta que vale um milhão de dólares é: a partir de quando esse boom vai acontecer? Isso nós ainda não sabemos. De qualquer maneira, há várias questões importantes em discussão neste exato momento que merecem a atenção de quem atua nesses segmentos. No mercado de óleo e gás, é claro que tudo está muito atrelado ao preço do barril e à nova configuração da Petrobras. Mas é bom lembrar que outras companhias estão começando a tomar corpo – e elas representam um novo mercado para quem atua nesses segmentos.
Sua palestra também traz recomendações para as empresas interessadas em atuar e prosperar nos segmentos de petróleo, gás e energias renováveis. Você poderia compartilhar uma dessas recomendações?
A primeira recomendação que faço é a de que saibamos considerar o mercado de energia como um todo, e não apenas pelos seus segmentos. É um mercado grande e que consome determinados tipos de equipamentos, bens e serviços. A empresa que oferece um produto para um destes segmentos certamente tem condições de atender outros. E aí chegamos a outra recomendação, que é o princípio da não-dependência. Para prosperar nesse mercado e ganhar escala, é muito importante que as empresas saibam diversificar seus negócios – ainda que, muitas vezes, isso signifique atender clientes em outros mercados, como o automotivo. Fora isso, há questões que ajudam a dar corpo a qualquer tipo de negócio, tais como a exportação. Eu, particularmente, acredito muito na atuação em grupo e na força do associativismo, por meio de entidades como a RS Óleo, Gás & Energia. Com o fomento da cultura da inovação e dos relacionamentos, os associados só crescem.
E no plano local, quais são as questões que merecem atenção?
Há muitas coisas acontecendo que podem beneficiar as empresas locais. Neste momento, por exemplo, o APL Metalmecânico e Automotivo da Serra Gaúcha está em vias de lançar o projeto Plataforma Digital Integradora, que vai facilitar a comunicação entre quem tem demandas não atendidas e fornecedores com capacidade ociosa no Estado, permitindo localizar empresas que possam atender essas demandas de forma colaborativa. Outra oportunidade está no Programa Gaúcho de Incentivo à Geração e Utilização de Biometano (RS-Gás), que promete alinhar as universidades, o governo e a própria Sulgás no esforço para finalmente ativar esse mercado no Rio Grande do Sul. Há muitas coisas que podem ser feitas.
Por Andreas Müller e Fernanda La Cruz | República - Agência de Conteúdo